quarta-feira, 23 de julho de 2008

Desejo (Junqueira Freire)

se alem dos mundos esse inferno existe,
essa patria de horrores,
onde habitam os tetricos tormentos,
as inefáveis dores;

se ali se sente o que jamais na vida
o desespero inspira:
se o suplicio maior, que a mente finge,
a mente ali respira;

se é de compacta, de infinita brasa
o solo que pisa:
se é fogo, e fumo e sulfur, e terrores,
tudo que ali se visa;

se ali se goza um genero inaudito
de sensações terriveis;
se ali se encontra esse real de dores
na vida não possiveis;

se é verdade esse quadro que imaginam
as seitas dos cristãos;
se esses demonios, anjos maus, ou furias,
não são uns erros vãos;

eu- que tenho provado neste mundo
as sensações possiveis;
que tenho ido da afeição mais terna
às penas mais incriveis;

eu- que tenho pisado o colo ativo
de vária e muita dor;
que tenho sempre nas batalhas dela
surgido vencedor;

eu-que tenho arrostado imensas mortes,
e que pareço eterno;
eu quero de uma vez morrer pra sempre
entrar por fim no inferno!

eu quero ver se encontro ali no abismo
um tormento invencivel:
desses que achá-los na existencia toda
jamais será possivel!

Eu quero ver se encontro alguns suplicios,
que o coração me domem;
quero lhe ouvir esta palavra incognita:
-chora por fim,-que es homem!

que, de arrosar as dores dessa vida,
quase pareço eterno!
estou cansado de vencer o mundo,
quero vencer o inferno!

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